terça-feira, 5 de maio de 2009

Manual Assessoria_25


O que jornalistas pernambucanos pensam da
Assessoria de Imprensa

No capítulo anterior, você viu o que jornalistas de veículos de São Paulo esperam de Assessores. Agora, você vai ler o que pensam dois renomados jornalistas pernambucanos, a então Secretária de Imprensa de Pernambuco, Terezinha Nunes; e o diretor de redação do Correio Braziliense, Ricardo Noblat.

Os textos são do Anais do XXIII Congresso Mundial dos Jornalistas, que aconteceu há quatro anos quando os dois, entre outros convidados, discutiam o tema Discurso Oficial & Verdade Factual: O papel da Assessoria de Comunicação:

Terezinha Nunes

A partir dos anos 60 e de forma mais abrangente nos anos 80 e 90, as Assessorias de Imprensa se multiplicaram no Brasil, sendo responsáveis por cerca de 50% do mercado de trabalho profissional.

O aparecimento no mercado da figura do assessor de imprensa criou reação nas redações, que num primeiro momento, passaram a distinguir o jornalista-assessor com um "chapa-branca", uma vez que as assessorias de órgãos oficiais são muito mais expressivas, quer em termos numéricos, quer em termos de estrutura, do que as assessorias de comunicação das empresas privadas.

Embora esse preconceito venha se dissipado em grande parte há ainda muita celeuma sobre o assunto, como se o jornalista de batente fosse mais profissional do que o jornalista-assessor.

Discutir o papel das Assessorias de Comunicação passa também por essa vertente, embora não se possa descuidar da análise do valor dessas Assessorias para a formação de um país em que todos os segmentos tenham direito a se expressar e no qual ter acesso às informações - as oficiais e as não-oficiais - é uma questão de conquista da cidadania.

A Assessoria de Comunicação, dentro desse contexto, não é apenas a que fornece informações para a Empresa, mas também a que colhe nos órgãos de Comunicação informações vindas do público, objetivo central não só dos jornalistas que se encontram nas redações, como de empresas privadas e órgãos públicos.

Fazendo esse feedback, a Assessoria de Comunicação pode interagir nas empresas, entidades e órgãos públicos para a correção de falhas, o aperfeiçoamento de um produto, a democratização das decisões, além, evidentemente, de exercer a sua atividade principal de informar ao público o que é do interesse do cliente.

Analisando sob esse ponto de vista o jornalista do batente e o jornalista-assessor são de fundamental importância para o País. Se a crítica exercida pelo jornalista do batente tem um poder de fogo maior, pois atinge o grande público mais facilmente, a crítica do jornalista-assessor tem seu poder de fogo apenas dentro do órgão assessorado, mas, tanto quanto a primeira, também tem sua força para mudar e transformar a sociedade e fazer avançar o processo democrático.

Ricardo Noblat

O trabalho do assessor de imprensa é tão digno e respeitável quanto o trabalho de um jornalista na redação. E importante, na medida em que facilita, ou pode facilitar o acesso dos jornalistas a informações de interesse público.

Mas o que um assessor de imprensa faz não é necessariamente Jornalismo - e aí está a diferença radical entre o trabalho dele e a natureza do trabalho de um repórter. Quem é o patrão do assessor de imprensa? O cidadão ou a entidade que o contratou. Quem é o patrão do repórter? O leitor. Ou o telespectador. Ou o ouvinte.

O repórter serve ao público. O assessor, a quem lhe paga o salário. Ambos trabalham com a mesma matéria-prima - a informação. Mas um deles - o repórter - é obrigado a ser veraz. O outro, o assessor, nem sempre.

O repórter caça a informação para servi-la ao público. E não lhe interessa se a informação pode agradar a um e desagradar a outros. O assessor garimpa para oferecer ao repórter a informação que seja mais conveniente e favorável a quem ele assessora. Um persegue a verdade. O outro, muitas vezes é obrigado a esconder ou disfarçar a verdade.

Fonte: Anais do XXIII Congresso Mundial dos Jornalistas (1998)
Recife/Olinda: Companhia Editora de Pernambuco

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