quinta-feira, 30 de abril de 2009

Programação_2GQ

Programação para o 2º GQ

Planejando o Orçamento - Sábado (09 de maio- Sala 510_bloco A

Prova Teórica - Sábado (23 de maio)
Salas 509 e 508 _Uma única questão

Planejando a Abertura da sua Empresa - Sábado (30 de maio)
Auditório do bloco J

Planejando a Abertura da sua Empresa - Sábado (6 de junho)
Sala 510_bloco A

Seminário de Resultados - Quarta-feira - sábado (10 de junho)
Sala 510

Seminário de Resultados - sábado - (13 de junho)
Sala 510_Assinatura da Ata

Vídeo_Gato e Cachorro

Vídeo_Motivado X Bola Murcha

Análise_O Verdadeiro Luxo


O verdadeiro luxo

Não tem a ver com roupas de grife, mansões e diamantes. Muito menos é algo para poucos afortunados. Surpresa: o mapa dessa mina está mais próximo do que você imagina
Objetos de luz_Roupas de grife_Viagens cinco-estrelas, cardápio sofisticado_morada dos sonhos_jóias preciosas

Aquela poderia ser mais uma manhã como outra qualquer. Eis que o sujeito desce na estação do metrô. Vestindo jeans, camiseta e boné, encosta-se próximo à entrada, tira o violino da caixa e começa a tocar com entusiasmo para a multidão que passa por ali, bem na hora do rush matinal. Mesmo assim, durante os 45 minutos que tocou, foi praticamente ignorado pelos passantes. Ninguém sabia, mas o músico era Joshua Bell, um dos maiores violinistas do mundo, executando peças musicais consagradas num instrumento raríssimo, um Stradivarius de 1713, estimado em mais de 3 milhões de dólares. Alguns dias antes Bell havia tocado no Symphony Hall de Boston, onde os melhores lugares custam a bagatela de 1000 dólares.

A experiência, gravada em vídeo, mostra homens e mulheres de andar ligeiro, copo de café na mão, celular no ouvido, crachá balançando no pescoço, indiferentes ao som do violino. A iniciativa realizada pelo jornal The Washington Post era a de lançar um debate sobre valor, contexto e arte. A conclusão: estamos acostumados a dar valor às coisas quando estão num contexto. Bell era uma obra de arte sem moldura. Um artefato de luxo sem etiqueta de grife.

Esse é um exemplo daquelas tantas situações que acontecem em nossas vidas que são únicas, singulares, e a que não damos a menor bola porque não vêm com a etiqueta de seu preço. A boa notícia é que pela primeira vez na história temos a chance eu, você e quem mais quiser de definir o que tem valor real para nós, independenteente de marcas, preços e grifes. Não é mais um luxo o que o mercado diz que você deve ter, sentir, vestir ou ser. O luxo se relativizou, cada indivíduo o percebe a seu modo. Quer ver?

Sabe quando você faz algo que lhe dá um prazer danado, mas que acontece aqui e ali, bem raramente, e que por isso mesmo traz uma sensação de felicidade que transborda só de pensar? Pois a experiência única, que evoca esse estado de espírito, é o tal luxo para chamar de seu. Ele ganhou um conceito mais flexível, que se desvincula do valor das cifras dos produtos e se aproxima das experiências subjetivas, um luxo emocional, afirma o psicanalista Jorge Forbes. Numa pesquisa rápida, descobri que, se para meu vizinho um luxo é chegar mais cedo do trabalho para cair na farra com os filhos, para a chefia é conseguir almoçar sossegado em casa e para a colega aqui ao lado é não ter hora para acordar simplesmente um luxo!

Objetos de luz

Essa não é a primeira vez que o luxo deixa de ser sinônimo de vida abastada, riqueza, extravagância e outros frufrus. Ele é tão antigo quanto a própria história da humanidade e em sua origem estava ligado aos rituais que as sociedades primitivas faziam para suas divindades. Acreditavam que iriam comover os deuses com coisas que não eram costumeiras, e que através dessas oferendas, danças e comidas especiais conseguiriam a luz para se orientar. Esses objetos que extrapolavam o cotidiano, veja só, passaram a se chamar objetos de luz, objetos de luxo. Antes de ser uma marca da civilização material, o luxo foi uma característica do ser humano em busca da transcendência, da sua não-animalidade, diz o filósofo francês Gilles Lipovetsky, co-autor do livro O Luxo Eterno.

E foi assim até o fim da Idade Média. No início do Renascimento o luxo perde sua aura sagrada, ganhando ares materialistas. Surgem os objetos de luxo suntuosos e exclusivos para as cortes aristocratas. Com a revolução burguesa e o início da sociedade de consumo, os objetos de luxo servem para distinguir as classes sociais. Feitos para dizer: eu tenho o que você não tem. Um tipo de luxo que se acentuou na era industrial e serviu de estímulo para as empresas se desenvolverem com produtos cada vez melhores e mais sofisticados. Uma sociedade hierárquica, com padrões universais de comportamento. Então veio a recente globalização, que botou tudo de cabeça para baixo. E as pessoas ficaram mais autônomas para gerir sua vida a partir de valores pessoais. Se hoje não existe mais um padrão de gostos, perde o sentido ter objetos de luxo para impressionar os outros, diz Dario Caldas, da agência de tendências Observatório de Sinais.

Isso não significa que o luxo tradicional esteja em declínio, muito pelo contrário. Ainda povoa nosso imaginário e dita a vida de muitos que sonham com a trilogia champanhe-charuto-golfe. Os dados estão aí para comprovar: é um setor econômico mundial da ordem dos 400 bilhões de dólares por ano, um mercado em ascensão, que só no Brasil cresceu 32% no ano passado, segundo pesquisa do instituto GFK Indicator.
O que mudou é que, com esse conceito de luxo expandido, ele deixa de ser restrito aos ricos. E isso não é papo de auto-ajuda para os menos endinheirados. Fui tirar a prova com Carlos Ferreirinha, um dos maiores especialistas do segmento de luxo no Brasil. Ele explica que existe até um apelido para isso no mercado: o novo luxo. O importante é que ele mantém a característica básica do luxo: aquilo que é raro, escasso, exclusivo, ou seja, tudo o que não é comum nem usual mas agora não necessariamente material, diz.

Taí o mapa da mina: o próprio indivíduo tornou-se a medida do luxo. Mas, cá entre nós, como descobrir esse novíssimo luxo? Faça este exercício: anote tudo que tem alto valor emocional e que lhe é raro. Pode ser tomar um cafezinho num lugar que você adora, mas aonde não consegue ir sempre, sair do trabalho com o sol ainda raiando no céu, lagartear sem fazer absolutamente nada. Tudo o que é difícil de realizar com o estresse da vida moderna pode ser um luxo, diz Ferreirinha. Eu não resisto e pergunto e qual o seu maior luxo? Esperava ouvir carros, iates e quetais como resposta. Sou aficionado por cinema e gostaria de ir pelo menos uma vez por semana, na sessão da tarde. Quando consigo pegar um cineminha, a experiência é única, diz. Bem, se somos o mapa da mina, o tesouro é este: recuperar o luxo que nos eleva do ter para o ser, da aparência para a essência, trazendo de volta seu antigo valor, de sacralizar momentos, torná-los divinos.

E para você? O que é um luxo? Ou melhor, o que lhe é raro e especial? Selecionamos cinco segmentos do luxo tradicional, mas vistos pelo prisma desse novo luxo, para ampliar sua reflexão. E para ajudá-lo a viver a dolce vita.

Roupas de grife

O corpo sempre foi a vitrine do luxo. E os trajes funcionaram, no decorrer da história, para demarcar posições sociais. Tanto é que a origem da palavra investimento é correspondente ao termo italiano investito, isto é, o investimento de valores fazia-se nos vestidos, nos trajes da época. Mas hoje não é mais assim. Não há um tipo de roupa que faça a diferenciação social, e sim as marcas de roupas, com seus precinhos salgados a tiracolo.

As grandes marcas são o carro-chefe, ou melhor, a limusine do segmento de luxo. A palavra marca em inglês se escreve brand, e vem de brandon, que é o instrumento empregado para marcar o gado a ferro quente. Acontece que, se antes as indumentárias marcavam os grupos sociais, como gado, esse comportamento mudou na contemporaneidade. Existe uma democratização da moda e ela não tem mais esse papel forte de distinção social. Hoje até a classe alta usa o que quiser, diz Ferreirinha. Há um movimento de popularização das marcas de luxo, seja porque estas lançam cada vez mais artigos acessíveis (perfumes e acessórios) e fazem parcerias com magazines, seja pela famosa indústria de cópias falsificadas.

Segundo outro expert no assunto, Gabriel Pupo Nogueira, fundador do Taste, um portal na internet para o consumidor de alto padrão, a moda não tem mais todo esse requinte, mesmo para pessoas mais abastadas. Um exemplo vem da pessoa mais rica do mundo: Bill Gates não usa ternos nem gravatas Armani, não faz a menor questão de transmitir glamour. Anda de calça jeans e camisa. É um comportamento mais informal, despojado , diz Gabriel.

Hoje a responsabilidade social está incluída no repertório das preciosidades. Trabalhos manuais feitos por artesãos e comunidades, ou ainda produtos que levam em conta a sustentabilidade, trazem um diferencial. O feito a mão é valorizado pela exclusividade da pequena produção, diz a professora Kathia Castilho, organizadora do livro O Novo Luxo. São tecidos pela criatividade da mão humana e não pela precisão da máquina, e suas tramas vêm com história.

Viagens cinco-estrelas

Se pensarmos em viagens de luxo, uma nuvem (plim) instantaneamente se forma acima de nossas cabeças, com imagens deliciosas de resorts glamourosos, em lugares exuberantes, acomodações espaçosas, atendimento VIP e banheiras debruçadas sobre o mar. Nada mal. Mas, no fim das contas, o que realmente faz com que uma viagem seja única? Claro que os requisitos descritos podem ajudar bastante, mas não são sufi cientes. O que faz com que uma viagem fique na memória até o fim da vida são os momentos emocionantes que ela proporciona, e isso independe de seu valor comercial, diz Edgar Werblowsky, que trabalha com ecoturismo há mais de 20 anos. Acredito que o valor da vida será medido pelas emoções vividas, o que será uma revolução, diz.

Edgar percebeu uma procura crescente do consumidor por experiências únicas. A partir dessa observação, criou há três anos a Imaginnare, uma agência de viagens de sonhos. Que vão de aventuras mais inóspitas, como passeios de balão e test-drive de carros de corrida, até as mais prosaicas, como observar passarinhos em alguma serra ou passar uma temporada numa fazenda rústica para vivenciar a vida no campo. Aliás, este é outro ponto: o esgotamento dos recursos naturais vai fazer com que mais pessoas voltem a atenção para curtir coisas simples como ar puro e água fresca. Simplesmente porque conhecer lugares espetaculares na natureza será uma experiência cada vez mais escassa.

Quando o ator paulistano Carlos Evelyn se casou, no início do ano, escolheu passar a lua-de-mel com Mariana na Itália. Não pelo lugar em si. É que seu pai e sua tia haviam feito há 40 anos uma viagem gastronômica memorável por lá, que tinha virado uma lenda familiar. Depois que seu pai morreu, Carlos achou um roteiro dessa viagem, com anotações sobre os restaurantes pelos quais passaram, descrições dos pratos que comeram e o que acharam da comida. Carlos decidiu fazer o mesmo estilo de viagem, e durante os passeios pelas cidadezinhas da Itália o casal também escreveu um diário gastronômico. A viagem foi especial não só porque a Itália tem cidades lindas, ou porque era minha lua-de-mel e minha mulher estava grávida de cinco meses mas também porque estava revivendo uma história do meu pai num momento em que estava quase me tornando pai, diz Carlos. Sem dúvida, uma viagem cinco-estrelas.

Cardápio sofisticado

Por falar em gastronomia, o que é um alimento sofisticado hoje? Mais que restaurantes badalados carérrimos, com chefs renomados, pense nos produtos regionais, feitos de maneira artesanal, sem conservantes - estes sim, uma raridade, diz a culinarista Cênia Salles, coordenadora do movimento Slow Food no Brasil. O princípio básico do movimento é trazer o prazer de volta à mesa, ao degustar com calma alimentos frescos, orgânicos, produzidos de forma que respeite o meio ambiente - como você pode notar, uma oposição ao fast food que se alastrou pelas cidades.

Dona de um dos primeiros empórios orgânicos em São Paulo, Cênia valoriza também aqueles pratos que trazem boas recordações. Para mim um luxo é saborear a torta da tia Lourdes, a bala de coco da tia Dora, o pão-de-ló de laranja da minha mãe, o merengue da prima Ceci e a queijadinha da tia Alice. Essas receitas fazem parte da minha memória gustativa, e a cada abocanhada me transportam para uma história da minha vida, diz. Ela abre a primeira página da agenda e mostra seu slogan: Simplicidade é o máximo da sofisticação, frase de Leonardo da Vinci. Então conclui: numa época em que comidas congeladas, com conservantes e industrializadas, ocupam as prateleiras dos supermercados, luxo mesmo é degustar uma comida caseira, com ingredientes saídos do jardim, feita por alguém especial.

Certa vez, quando perguntaram ao dono da maior rede de supermercados - e de uma das maiores fortunas - do país qual seu prato ou restaurante preferido, ele não apontou um prato de um chef aclamado, de um fino restaurante internacional. Abílio Diniz confessou seu prato premiado: um bom tostex de queijo minas com peito de peru e orégano, que ele mesmo prepara na cozinha, quando chega do trabalho. Quem diria?

Morada dos sonhos

Quando você imagina a casa dos sonhos, a primeira pergunta que tem que fazer é: o que faz bem a minha alma? Pode ser uma vista deslumbrante, uma árvore no quintal, morar num prédio que tenha importância histórica, um espaço para desfrutar do sol, enfim, esse será o seu luxo, diz José Eduardo Cazarin, fundador da Axpe, imobiliária de imóveis especiais. Não se trata de exibir um ambiente exterior de riqueza, mas sim de criar um espaço que se pareça conosco, um lugar personalizado. No mais, o consumo ostentatório é de mau gosto, inoportuno, não tem cabimento é cafona mesmo, afirma Cazarin. E arremata: O importante é que sua morada proporcione uma experiência sensorial de bem-estar.

O arquiteto e urbanista paulista Paulo Mendes da Rocha vai além. Para ele, viver de maneira especial tem a ver com a relação que você tem com a cidade. Em tempos de casas muradas e condomínios fechados, um luxo é usufruir as qualidades que a cidade tem. Entender que a casa não é só a casa, mas também a cidade. É ter na quadra da sua casa uma padaria ou um café agradável, poder passear na rua, morar perto do trabalho, dispor de transporte público. Retomar a essência da cidade, que é o convívio urbano. A grande segurança da cidade é ter suas ruas ocupadas. Assim são as mais belas cidades do mundo, diz a arquiteta paulista Fernanda Barbara, ex-aluna de Paulo Mendes da Rocha, também defensora da cidade como casa.

Movimento exatamente contrário ao que propõem os lançamentos imobiliários de alto padrão das grandes cidades: condomínios que vêm com verdadeiros clubes, salão de beleza, bosque, mercadinho e, quem sabe, até uma padaria. Quase uma minicidade murada.

Jóias preciosas

São o ícone do luxo. Não foi à toa que Audrey Hepburn imortalizou-se no clássico filme Bonequinha de Luxo. Nele, sua personagem pobretona, mas cheia de classe, suspira ao tomar café da manhã em frente à joalheria Tiffany e sonha que um dia será tão rica que terá todas aquelas preciosidades, e para tanto procura magnatas para casar. Até encontrar a jóia mais preciosa no relacionamento com seu vizinho pé-rapado com quem cria vínculos e acaba se apaixonando.

Pois é. Se o novo luxo é emocional, vale lembrar que os relacionamentos são como o ouro do mais puro quilate. Isso mesmo. Um estudo conduzido pelo Instituto de Educação da Universidade de Londres demonstrou que uma pessoa que ganha 3 mil reais e encontra com freqüência os amigos é tão feliz quanto outra que tem o salário dez vezes mais alto, mas sacrifica sua vida social. A pesquisa feita com 8 mil britânicos se propôs a colocar etiquetas de preços em amigos e parentes. Os resultados mostraram claramente que um aumento no nível de envolvimento social equivale a muitas libras adicionais por ano em termos de satisfação de vida, afirmou o autor da pesquisa, Nick Powdthavee, especialista em economia aplicada a temas de felicidade.

Demorou para o terapeuta corporal e professor de aikidô Jorge Mello descobrir essa pepita. Jorge trabalhou 18 anos num banco e, apesar de ter uma vida financeira satisfatória, só sobrava tempo para as relações profissionais. Até conhecer o Movimento de Simplicidade Voluntária, organização mundial que ensina a auto-observação como mecanismo para perceber se suas opções estão gerando realizações. Não deu outra. Trocou de profissão e, como terapeuta, não atende mais de cinco pacientes por dia, tem um círculo de amizades autênticas e coordena o Movimento Simplicidade Voluntária no Brasil. Tenho menos sucesso e sou mais completo, diz. Vou duas vezes por mês à orquestra sinfônica e divido a vida com os amigos. Valorizo meu bem mais precioso: meu tempo, e encerra a conversa para não se atrasar para um encontro.

Tempo. Talvez um luxo para a mulher que surgiu apressada na escada rolante daquela manhã no metrô de Washington, segurando a mão de seu filhinho de 3 anos. O menino aparece no vídeo virando a cabeça várias vezes, tentando olhar para o violinista, enquanto é puxado pela mãe. Queria parar um pouco para ouvir a música. Mas a mãe estava sem tempo.

Para saber mais
Livros:
O Luxo, Jean Castarède, Barcarolla
O Luxo Eterno,Gilles Lipovestky e Eliette Roux, Companhia das Letras
O Novo Luxo, Kathia Castilho e Nízia Villaça (orgs.), Anhembi Morumbi
A Felicidade Paradoxal Gilles Lipovestky, Companhia das Letras

Análise_Sai de Cena



Saia de cena

Um afastamento temporário da rotina ajuda a abrir caminhos, resgatar planos e descobrir aonde queremos chegar

Parar por quê?_Até Deus parou_Coragem para mudar_Antes de parar

Faça uma conta rápida. Provavelmente, você deve ter entrado na escola aos 5 ou 6 anos de idade, um pouco mais, um pouco menos. Foi então que começou a corrida maluca dos números. Durante cerca de 11 anos, esteve imerso em muitas aulas, um aprendizado sem fim afinal, não havia escolha. Depois, veio o cursinho, o vestibular, a faculdade. Pelo menos mais cinco anos de aulas. Em seguida, o estágio e finalmente o emprego, a profissão. Em outros casos, filhos e família. Ou tudo ao mesmo tempo. E assim muitos anos se passaram, sua rotina se estabeleceu e consolidou a vida que você leva hoje. Quantas vezes já bateu aquela sensação de estar anos e anos correndo sem saber exatamente para onde está indo? Parece que não deu tempo de esvaziar a mente pelo contrário, ela só vem enchendo, enchendo, enchendo. Tem horas que parece quase transbordar.

É por isso que há momentos em que é preciso parar as máquinas. Afastar-se da rotina é um bom jeito de ver, de fato, o que está acontecendo em nossas vidas. Esse tempo pode ser aproveitado para tocar antigos projetos pessoais ou até descobrir novos rumos até porque muitas vezes eles nem estão tão claros assim. Se for o caso, você pode voltar e deixar tudo do jeitinho que estava o que importa é que seu olhar dali por diante terá mudado.

Trocando em miúdos, isso quer dizer parar mesmo de trabalhar, estudar, cuidar da casa, das crianças. Enfim, interromper temporariamente a atividade principal. Não se trata de férias, é uma parada mesmo.Coisa de mais de um mês podem ser meses ou anos, isso é você quem decide, dependendo do que pretende fazer com esse tempo. Existe até um nome para isso: período sabático. O termo, ainda pouco conhecido, vem da palavra hebraica shabat e marca o dia de descanso semanal dos judeus.Hoje, o conceito foi ampliado e significa dar uma parada em busca de qualidade de vida, mudança de hábitos e realização pessoal. Precisei andar 800 quilômetros para dar um salto de 30 centímetros: sair da cabeça e ir até o coração, resume o consultor financeiro Herbert Steinberg, ao lembrar o momento em que resolveu se afastar dos seus afazeres para fazer uma caminhada até Santiago de Compostela, na Espanha.A experiência rendeu frutos como o livro Sabático, um Tempo para Crescer.Herbert define o sabático como a interrupção da rotina para criar oportunidades de crescimento. É um período de estudo, de criação artística ou de qualquer outra coisa ditada pelo sonho individual. Para que continue após a sua realização, é preciso, em primeiro lugar, atender a uma profunda aspiração íntima.

Parar por quê?


Diferentemente das férias, o período sabático é motivado por uma necessidade de renovação, não de descanso puro e simples. Ele requer um sonho, o projeto de uma nova experimentação pode ser uma viagem de veleiro, uma escalada ao monte Kilimanjaro, uma temporada de trabalho voluntário, um curso ou mesmo um tempo longe do trabalho só para se dedicar aos filhos. O fundamental é sair da rotina para rever os rumos e conseguir uma mudança interior, uma virada na vida.

No livro A Essencial Arte de Parar, o psicoterapeuta americano David Kundtz diz que só fazendo essas paradas, mesmo que curtas, podemos ficar totalmente despertos e recordar quem somos. Kundtz diz que parar por um determinado tempo não importa quanto ajuda a entrar em contato com você mesmo: descobrir quem você é e o que quer da vida de verdade. Esse tempo individual ajuda a seguir na direção desejada na hora em que é preciso tomar uma decisão ou executar uma tarefa. Sem esse período de reflexão, acabamos sendo levados pelo turbilhão dos acontecimentos. Era impressionante a quantidade de pessoas que eu conhecia que levavam a vida como autômatos. Esse era um filme que eu não queria repetir. Senti necessidade de parar e refletir sobre minha própria condição no mundo, confirmando ou modificando trajetórias, diz Herbert Steinberg.

Para o consultor Paulo de Barros Souza, a hora de parar chegou quando percebeu que vivia um momento em que tempo era mais importante que dinheiro. Em abril deste ano, pediu uma licença do trabalho e passou três meses viajando.Aos 40 anos de vida e 20 de profissão, achei que merecia realizar projetos com os quais sonhava. Paulo compara a mente humana a um computador. Depois de um tempo, nosso cérebro também começa a apresentar problemas. Para que volte a funcionar bem, é preciso limpar o disco rígido e atualizar o software. Sabático é isso.

Na verdade, não é preciso de rótulos para tirar um período sabático. Sem sequer conhecer o significado da palavra, milhares de jovens do mundo todo passam meses viajando pelo mundo de mochila. Sem saber, estão em sabático. Na Inglaterra, é bastante conhecido o chamado Gap Year, um ano que muitos britânicos tiram entre o fim do ensino médio e o ingresso na universidade, normalmente para se dedicar a algum trabalho voluntário. Até os filhos do príncipe Charles,William e Harry, passaram um tempo trabalhando em países do Terceiro Mundo. Em Israel, freqüentemente rapazes e moças que terminam o serviço militar obrigatório passam de seis meses a um ano viajando antes de retomarem suas atividades. Esse período de aprendizado e reflexão ajuda a tirar dúvidas sobre qual carreira escolher isso mostra que não é preciso chegar aos 40 nem trabalhar dez anos em uma empresa para sentir necessidade de um tempo.

No filme italiano Pão e Tulipas, Rosalba, uma dona-de-casa, vive sem saber uma experiência parecida. Viajando pela Itália em uma excursão de ônibus com sua família, ela é esquecida pelo marido e os filhos em um restaurante de beira de estrada. Rosalba então aproveita a situação para conhecer Veneza, a cidade dos seus sonhos. Pede carona, trabalha como florista, faz novos amigos. Mais ainda: descobre entre estranhos um carinho e uma cumplicidade mais intensos do que tinha com seu marido e filhos.

Até Deus parou


Não pense você que o sabático é invencionice dos tempos modernos. De acordo com a Bíblia, foi ninguém menos que Deus quem começou isso. Ele teria criado o mundo em seis dias e, no sétimo, descansado. No Velho Testamento, está escrito:Semeareis os vossos campos seis anos a fio, e seis anos podareis as vossas vinhas, e recolhereis os seus frutos. O ano sétimo, porém, será o sábado na terra, consagrado à honra do descanso do Senhor. Não semeareis os vossos campos, nem podareis as vossas vinhas.

Assim como a terra precisa de um tempo de descanso para continuar fértil, nós também necessitamos de um período longe da rotina para que novas idéias possam frutificar em nossa cabeça. Deve ser por isso que os escritos sagrados chegaram aos nossos hábitos atuais. A prática começou em 1880, quando o presidente da Universidade Harvard, Charles W. Eliot, quis contratar o famoso filólogo Charles Lanman. Para atraí-lo, ofereceu a Lanman o benefício de um ano de licença remunerada a cada seis anos trabalhados. Outras universidades seguiram o exemplo e, hoje, isso é muito comum em faculdades do mundo todo.

O sabático também sempre esteve muito presente na antroposofia, ciência espiritualista criada por Rudolf Steiner, no início do século passado, que se propõe a reunir os pensamentos científico, artístico e espiritual e, dessa forma, responder algumas das questões mais profundas do homem moderno sobre si mesmo e sobre suas relações com o Universo. Na pedagogia criada por Steiner, também conhecida como pedagogia Waldorf, o desenvolvimento dos seres humanos é explicado em ciclos de sete anos, chamados setênios. Cada setênio apresenta momentos diferentes de desenvolvimento da criança. O professor é um tutor que guia a mesma turma por sete anos. Depois disso, tem direito a um período para recarregar as baterias. Aproveitei meu sabático para ler e estudar bastante, diz a professora Wilma Lúcia Furtado Paschoa, do colégio paulistano WaldorfMicael. É importante para que você se desligue da turma anterior e tenha energia renovada para iniciar um outro ciclo. No mercado das empresas, o sabático chegou na década de 50, quando a IBM instituiu o programa Personal Leave of Absence. Ele permitia aos funcionários uma licença não-remunerada de até três meses. Hoje, 20% das maiores empresas dos Estados Unidos oferecem a possibilidade de períodos sabáticos, geralmente garantindo remuneração integral ou parcial.

No Brasil, ainda é pequeno o número de empresas que oferecem a possibilidade de um período sabático aos funcionários. Por isso, por aqui, a maioria das pessoas que resolve parar precisa se organizar por conta própria. Isso inclui guardar dinheiro por um tempo, planejar-se até porque, evidentemente, é inviável parar de trabalhar, resolver viajar ou seja lá o que for, sem um suporte financeiro. Pois bem, mas aqui chegamos a um ponto que costuma render discussões acaloradas: o dinheiro.A falta dele muitas vezes é usada como desculpa para não mudar.Afinal de contas,mexer em uma situação consolidada normalmente quer dizer trocar o conforto do conhecido por algo incerto. E isso pode significar aprender a viver com menos.

Andar de metrô, usar calça jeans e viver com dinheiro contado são algumas das experiências que mais marcaram o sabático de Walter Janssen Neto. Ele descobriu que era possível dar uma parada depois de trabalhar ininterruptamente durante 25 anos na Weg, grupo empresarial catarinense que fabrica motores elétricos industriais. Em 1997, ao saber que sua filha de 15 anos queria fazer um programa de intercâmbio no exterior, Walter teve um estalo. Por que não vou também?Após uma negociação com a diretoria da empresa, decidiu-se por um MBA na Filadélfia. Antes, passou três meses fazendo especialização na língua. Foi maravilhoso conviver com pessoas de todas as idades e de diversas partes do mundo, andar de metrô, me vestir informalmente. Descobri que era possível viver com menos e de maneira mais simples. A experiência mudou sua vida. Ao sair da rotina, ele perdeu a concha protetora,mas ganhou em crescimento pessoal. O sabático me permitiu ver que existiam oportunidades de aprendizado fora de Santa Catarina. Também ajudou a ver que o lado espiritual é bem mais importante que o material. Descobri que devemos ter coragem e determinação para seguir o que nosso coração e nossa intuição nos indicam.

Coragem para mudar

Fora o aspecto financeiro, a decisão de tirar um sabático ainda depende de muita ousadia. É preciso desprender-se e encarar todos os estranhamentos que a atitude pode causar. A administradora de empresas Cynthia Jobim é um bom exemplo disso. Para correr atrás de um antigo sonho, foi capaz de deixar marido e filhos pequenos em casa e viajar para o exterior. Ainda quando estava na época de faculdade, conheci um grupo de israelenses que tinham acabado de prestar serviço militar e estavam viajando por um ano. Foi a primeira vez que ouvi falar sobre a possibilidade de me afastar do dia-a-dia e vivenciar novas experiências, conta. Mas logo ela começou a trabalhar, casou, teve filhos e os outros sonhos ficaram de lado. Aos 40 anos, Cynthia tomou coragem e foi passar três meses estudando na Universidade de Michigan.Minha vida era uma correria.

Eu trabalhava, estudava, tinha um marido e duas crianças pequenas, não tinha tempo para nada, diz Cynthia. Longe de casa, finalmente teve tempo para um encontro consigo mesma. Sair do dia-a-dia faz você ver as coisas de outra perspectiva.Resgatei objetivos de vida que estavam esquecidos. No período fora, ela fez seus planos de mudança e logo ao chegar ao Brasil colocou-os em prática.Um mês depois da aterrissagem, deixou a empresa na qual estava havia 13 anos, foi fazer um mestrado e começou a dar aulas. Foi na viagem que resgatei a vocação para a pesquisa e o ensino, diz Cynthia.

Foi o olhar de fora que fez com que Cynthia mudasse as imagens que tinha em relação à própria vida. Esse mesmo olhar transformou o cotidiano de Paulo, Walter e todos os outros que tiveram um pedaço de sua história contada aqui. Pode ser que esta seja a chave: afastar para ver melhor. É como apreciar uma obra de arte com o rosto colado na tela não dá para ver nada, a pintura vira um borrão. Se dermos alguns passos para trás, tudo começa a ficar mais nítido. Até que a beleza da obra começa a aparecer no caso da vida, o máximo que pode acontecer é resolvermos mudar o quadro de lugar e pintar a parede de outra cor. O resultado pode ser surpreendente.

Antes de parar

TROQUE EXPERIÊNCIAS Para sair em sabático, é importante eleger um mentor, um conselheiro com quem possa trocar idéias sobre seu projeto e verificar se ele é de fato consistente. Deve ser alguém não apenas solidário com seus planos, mas também capaz de questioná-los. Isso o ajudará a fortalecer suas idéias.
PLANEJE-SE Converse com pessoas que já fizeram uma experiência semelhante e pesquise sobre o que pretende fazer. Talvez seja o caso de guardar dinheiro ou pedir a ajuda financeira temporária de algum familiar.

NEGOCIE COM A FAMÍLIA Parar o que está fazendo vai implicar uma certa negociação com quem vive com você. Pode haver resistência se você chegar, do nada, avisando que vai passar seis meses trabalhando como voluntário na África ou fazendo um curso de restauração em Londres. Para quebrar o choque, é preciso conversar bastante antes, prever soluções para problemas que sua falta pode causar. O mais importante é que todos percebam a importância que o projeto tem para você e os benefícios que trará para si e para a família.

DEFINA PRAZOS O sabático deve ter também um começo, um meio e um fim bem definidos para que o retorno à vida normal não seja traumático. Na volta, pode ser difícil se readaptar a compromissos e horários. O truque é aproveitar essas dificuldades a seu favor por exemplo, reduzir de vez a carga de trabalho em uma hora por dia e aproveitar esse tempo para fazer um esporte ou conviver com os filhos.

PARA SABER MAIS
FILME
Pães e Tulipas, dir. Silvio Soldini, 2000
LIVROS
Sabático, um Tempo para Crescer, Herbert Steinberg, Gente
A Essencial Arte de Parar, David Kundtz, Sextante
The Sabbatical Mentor A Practical Guide to Successful Sabbaticals, Kenneth Zahorski, Anker Publishing Company

Fonte: Revista Vida Simples

Análise_Auto-estima


Você gosta de você?

Aprenda a usar a força da verdadeira auto-estima e a distingui-la do narcisismo exagerado de nossos dias

Ingrediente fundamental¬_Auto-estima em baixa_Vem de dentro_Honestidade, enfim

Antes de começar, preciso fazer uma confissão: reescrevi esse texto antes de enviar ao editor a versão final. Durante esse processo, me chamei de incompetente e cheguei a duvidar de que seria a pessoa mais adequada para escrever sobre auto-estima. E talvez não seja mesmo. É que, apesar de me sentir uma pessoa razoavelmente confiante (repare no razoavelmente), tendo a acreditar que pessoas que exalam uma auto-estima inabalável não são gente de verdade. São personagens de cinema, como 007, na versão Sean Connery, com aquele porte decidido, bem-humorado e auto-estima de sobra para abrir um sorriso maroto de seus próprios defeitos, incluindo o péssimo hábito de assassinar a sangue frio seus inimigos. Ou Alex Owens, aquela adorável ¬ e improvável ¬ soldadora no filme Flashdance que trabalhava à noite como dançarina até conseguir uma vaga em um renomado conservatório de balé clássico. Daí que, quando deparo com livros de autoajuda ou pastores na TV com frases do tipo “Você é especial” ou “Deus te ama”, me lembro logo daquelas propagandas de banco que juram que sou um cliente vip, gold, premium, prime. Não somos todos especiais, afinal? Deus, por acaso, vai deixar lá de amar alguém?

Por outro lado, me incomoda também o péssimo hábito dos brasileiros de enaltecerem excessivamente a humildade e tacharem de arrogantes e metidas todas as pessoas bem-sucedidas, fazendo inclusive com que elas se sintam constrangidas com o sucesso. Uma pesquisa concluída no fim do ano passado pela International Stress Management Association (ISMA-BR) constatou que 59% dos brasileiros sofrem de auto-estima baixa (contra 27% dos franceses e 22% dos americanos). Segundo afirmou a psicóloga Ana Maria Rossi, coordenadora do estudo, o resultado pode ser oriundo também da nossa mania atávica de condenar quem costuma se vangloriar de suas realizações, fazendo com que acreditemos que não somos merecedores por nossos maiores feitos e conquistas. Se um jogador de futebol se mostra confiante de sua qualidade e habilidade, ele naturalmente corre o risco de ser chamado de “mascarado”. Se alguém é promovido rapidamente na empresa, mesmo que exclusivamente por mérito próprio, haverá logo um grupo de pessoas ou amigos apontando como essa pessoa “mudou” desde que assumiu o novo cargo. Ou seja: entre nós, a segurança pode agredir.

Talvez seja por isso que sempre achei difícil distinguir a genuína autoestima da arrogância. Será que ter excesso de auto-estima pode ser um mal tão grande como ter baixa auto-estima? O que é auto-estima, afinal?

Ingrediente fundamental

Não deve ter sido por acaso que o homem responsável por levantar a bola da auto-estima tenha sido uma criança frágil e doente, daquelas que assistem impotentes às outras crianças brincarem enquanto esperam a cura de suas enfermidades. Nascido em Viena, em 1870, Alfred Adler chegou a ser desenganado pelos médicos após contrair uma pneumonia aos 5 anos de idade. Ele não apenas sobreviveu como se tornou, ao lado de Freud ¬ de cujas idéias iria se distanciar nas décadas seguintes ¬ um dos pais da Teoria da Personalidade. São de Adler conceitos como “complexo de inferioridade” e “complexo de superioridade”, usados hoje até para justificarmos a incapacidade da seleção brasileira feminina de vôlei de vencer as cubanas.

Mesmo que seus conceitos tenham se transformado em chavões, a conclusão do trabalho de Adler permanece fundamental: a essência da nossa personalidade estaria na luta pela superioridade e a auto-estima é um ingrediente fundamental para uma personalidade saudável. Daí que, quando nos sentimos muito desamparados ou impotentes, pensamentos normais de incompetência podem assumir proporções devastadoras, fazendo com que deixemos de acreditar que somos capazes de lidar com os desafios da vida. Pronto: estaria instalado aí o complexo de inferioridade. No outro extremo da corda, aquela pessoa que vive se jactando de seus feitos, exagerando suas qualidades com arrogância, pode, na verdade, estar em busca de uma compensação de algo que acredita faltar nela. Como escreveu em seu livro Desejo de Status o filósofo suíço radicado na Inglaterra Alain de Botton, a sede desenfreada por fama e influência pode não passar, na prática, de busca de amor. Ou seja: a luta desesperada por aparentar uma auto-estima elevada pode ser fruto do complexo de superioridade, o outro lado da mesma moeda cuja origem também residiria na falta de confiança em si.

Desde então, a falta de auto-estima passou a ser vista como o principal detonador dos distúrbios de personalidade. Sem auto-estima, tornamo-nos inseguros e vulneráveis ao abuso de drogas, distúrbios alimentares e até mesmo a nos tornarmos criminosos frios, incapazes de sentir qualquer compaixão pelo sofrimento alheio. No decorrer do século 20, milhares de artigos psiquiátricos e de sociologia mostraram como a maioria dos criminosos teriam sido crianças que tiveram a auto-estima destruída por diversas causas, sendo a mais importante ¬ e cruel ¬ o abuso sexual infantil. Livros sobre a “anatomia” de criminosos e adolescentes contraventores apontavam sempre para o mesmo alvo. Era preciso agir rápido e cedo. Na década de 1970, campanhas para desenvolver a auto-estima entre os jovens foram disseminadas nos Estados Unidos, associações de autoestima foram criadas e o incentivo à auto-estima passou a ser vista como solução para a diminuição de quase todos os males.

Tudo parecia correr bem, até que, nos anos 1990, alguns terapeutas colocaram em xeque essas campanhas, acusando-as de estimularem o nascimento de uma geração pedante e egocêntrica, tão narcisista e auto-indulgente quanto Paris Hilton. Para piorar a situação, esses pesquisadores passaram a argumentar que excesso de auto-estima seria também um traço comum encontrado em líderes de gangue, assassinos e estupradores. Quando a psicóloga Lauren Slater escreveu no jornal The New York Times, em 2002, o artigo “O problema com a auto-estima”, questionando toda essa celebração em torno do tema, a autoestima parecia ter passado, supreendentemente, de mocinha a vilã.

O que será que deu errado?

Auto-estima em baixa

O artigo de Lauren Slater apresentava os argumentos de pesquisadores como Nicholas Emler, da London School of Economics, na Inglaterra, e do psicólogo Roy Baumeister, da Universidade de Princeton. Para Emler, não há prova alguma de que pessoas com baixa auto-estima sejam mais incapazes que pessoas com alta auto-estima. Ao contrário: “Na verdade, pessoas com baixa auto-estima podem até superar seus pares, porque eles sempre dão duro na tentativa de alcançar suas metas”, afirma. Em compensação, adolescentes com auto-estima nas alturas estariam mais arriscadas a se tornarem delinqüentes ou racistas, já que o excesso desse sentimento os levaria a se sentir superiores. O psicólogo Roy Baumeister vai além e afirma que excesso de auto-estima seria, na verdade, um traço típico de líderes de gangue, assassinos e estupradores. Segundo ele, isso aconteceria porque pessoas com excesso de auto-estima tenderiam a ser agressivas quando têm o ego ameaçado.

No meio do debate, está em jogo tanto a definição da auto-estima quanto a própria dificuldade em medi-la. Até hoje, as formas mais recorrentes de detectá-la são por meio de questionários com perguntas simples sobre a imagem que temos de nós. Se você reconhece em si boas qualidades e tem atitudes positivas, a auto-estima é alta. Caso viva praguejando dos seus defeitos, é baixa. Simples, não fosse por dois detalhes. O primeiro é o fato de que pessoas egocêntricas e com complexo de superioridade costumam se avaliar positivamente nesses testes. O segundo é que uma pessoa confiante pode, constrangida em parecer arrogante, ter uma pontuação abaixo da média. Ainda que haja outras formas de se checar a auto-estima de alguém indiretamente ¬ quando uma pessoa responde um questionário sem saber de que se trata ¬ não há, é claro, nenhum instrumento preciso para medi-la. Para isso, nada vale mais do que procurar, com honestidade, qual a origem das idéias que fazemos de nós mesmos.

Vem de dentro

Até os 23 anos, a jornalista carioca Zara Costa acreditou que sua auto-estima daria uma guinada caso conseguisse perder os 40 quilos extras responsáveis por comentários como “ela tem um rosto tão bonito, mas...”. Dois anos depois, com 45 quilos a menos após uma dieta rigorosa e o corpo remodelado por uma cirurgia plástica, Zara alcançou parcialmente seu objetivo, tornando-se alvo de cantadas e virando, inclusive, personagem de uma reportagem sobre seu novo corpo para a revista Nova, em setembro de 2002. “Apesar de me sentir bem mais feliz com minha imagem no espelho, descobri, mais tarde, que minha auto-estima não dependia apenas da visão externa que eu e as outras pessoas tinham de mim”, diz Zara. “Por mais que tivesse a aprovação externa, precisei fazer terapia para me convencer do próprio valor.”

Zara descobriu por si algo com que todos os estudiosos sobre auto-estima, independentemente da linha terapêutica, parecem concordar: enquanto a genuína auto-estima torna a pessoa menos vulnerável a julgamentos externos, a “pseudo auto-estima” depende basicamente da admiração e da aprovação dos outros. O problema, nesse caso, é que, como os fatores externos não podem ser diretamente controlados por nós, quem se torna dependente dessa aprovação não consegue manter por muito tempo a confiança em si, oscilando entre picos de auto-admiração seguidos de abismos de autodepreciação. O resultado seria uma espécie de montanha russa emocional bastante problemática, que se move vertiginosamente ao sabor de qualquer crítica ou elogio. “Mas, como essa aprovação está sempre ameaçada, elas podem contra-atacar com agressão quando são criticadas”, escreveu o professor de psicologia da Universidade de Clemson, Robert Campbell, no artigo “Is High Self-Steem Bad for You? (Alta auto-estima é ruim para você?).
De acordo com Campbell, a genuína auto-estima exige uma boa dose de realismo e coragem para lidar com sentimentos indesejados como dor, impotência, vergonha e medo. E esse, definitivamente, não seria o caso de uma pessoa extremamente narcisista, cuja confiança em si estaria sempre vulnerável à aprovação da imagem fictícia que essa pessoa faz dela. Quando essa imagem não é reconhecida, surgiriam então os distúrbios de personalidade em forma de transtornos alimentares (anorexia e bulimia, por exemplo) ou mesmo em inesperadas explosões de violência.

Honestidade, enfim

Talvez seja por isso que, além de coragem e realismo para lidar com emoções negativas, outro traço fundamental da auto-estima é o sentimento de que somos responsáveis por nossos pensamentos e ações, fazendo com que possamos distinguir, com independência, nossos sentimentos autênticos daqueles que são oriundos do julgamento dos outros.

Na prática, isso não significa, contudo, que devamos ser frios a ponto de ignorar a crítica alheia. Afinal, como lembra o neurocientista Dylan Evans, autor do livro Emotion: The Science of Sentiment (“Emoção: a ciência do sentimento”, sem tradução brasileira), se fôssemos apenas racionais como o Doutor Spock, do seriado Jornada nas Estrelas, provavelmente não teríamos evoluído como espécie. “Algum grau de tristeza e desconforto diante de uma avaliação negativa é fundamental para que possamos melhorar como ser humano”, diz o neurocientista. O problema é quando essa tristeza se transforma num monstro paralisante que faz com que venhamos a acreditar que não vale a pena expor nossas idéias, nossos sentimentos e, em alguns casos, sequer viver ¬ nesse caso, é aconselhável buscar aconselhamento urgente de um psiquiatra, já que pensamentos suicidas podem ser tratados com a ajuda de antidepressivos.

No dia-a-dia, há quem acredite que existe, sim, um antídoto contra a perda de confiança em nós: honestidade. Quem nos dá um exemplo disso é o monge Tenzin Gyatso, o Dalai Lama, que, apesar de ser considerado um ícone da humildade, garante que não perde a confiança em si sequer quando frustra a expectativa de pessoas que esperam milagres. “O fato de eu perceber que não consigo realizar milagres não provoca uma falta de confiança porque, para começar, nunca acreditei que tivesse essa capacidade”, escreveu. “Quanto mais honestos, mais francos nós formos, menos medo vamos ter, porque não haverá nenhuma ansiedade quanto à possibilidade de sermos desmascarados ou expostos aos outros. Por isso, creio que, quanto mais honestos nós formos, mas autoconfiança teremos”, ensina, confiante.

Ou, como disse uma vez o escritor alemão Johann Wolfgang Goethe: “Um erro grave é tanto se julgar mais do que se é quanto se estimar menos do que se merece”.

Para saber mais
Livros:
• Teorias da Personalidade - Da Teoria Clássica à Pesquisa Moderna, Howard S. Friedman e Miriam W. Shustack, Pearson Prentice Hall
• Emotion: The Science of Sentiment, Dylan Evans, Oxford
• Desejo de Status, Alain de Botton, Rocco
Fonte: Revista Vida Simples

Análise_Feito Mágica


Feito mágica

Ao vencer o desafio da bagunça e colocar um pouco de ordem no seu dia-a-dia, você ganha tempo, espaço, energia e liberdade para se dedicar àquilo de que mais gosta

Mais energia¬_Mais especo_Mais tempo_Mais liberdade

Autor da famosa canção erótica “Je T’Aime,Moi Non Plus”, o boêmio compositor francês Serge Gainsbourg era a imagem do desleixo: cabelo desgrenhado, barba por fazer, um copo de licor Pastis na mão e um cigarro Gitanes na outra.O enfant terrible do pop francês fumava cinco maços de cigarro por dia, tomava porres homéricos e chegou a ser preso uma vez, por incendiar um restaurante. Em outras palavras, Gainsbourg era o caos feito pessoa.Dentro de casa, no entanto, ele tinha uma verdadeira obsessão pela ordem.Na residência número 5 da Rue de Verneuil, no bairro de St.-Germain, em Paris, tudo tinha que estar impecável, cada coisa no seu devido lugar, seguindo à risca as regras estipuladas por ele. Os cômodos da casa eram pintados de preto. A cor também estava presente no chão de mármore, na lareira, no sofá e no piano Steinbeck.Até o mordomo era negro. Para Gainsbourg, a cor preta tinha um efeito tranqüilizador. “Ele dizia que tinha uma bagunça tão grande dentro da cabeça que não conseguia tolerar a falta de ordem à sua frente. Ele teria enlouquecido”, conta Jane Birkin, durante anos musa e companheira do compositor, no livro Serge Gainsbourg –

Um Punhado de Gitanes.

Assim como Gainsbourg, todos nós precisamos de um pouco de ordem na vida. Isso é o que torna nossa existência viável. É como os trilhos de um trem. Se não estiverem muito bem encaixados e ordenados, o trem descarrila. Agora, se estiver tudo no lugar certo, chegamos ao nosso destino final e, mais que isso, ainda apreciamos as paisagens que surgem durante o caminho. Parece tudo muito poético, mas sem nenhuma utilidade prática? Pois saiba que ela existe, sim, já que algo muito semelhante acontece em nosso cotidiano. Quanto mais nos organizamos (quanto mais os trilhos estão em ordem), mais ganhamos tempo, espaço, energia e liberdade para nos direcionarmos àquilo que realmente nos interessa (chegar ao lugar certo) e nos dá prazer (curtir a paisagem). É muito comum a gente reclamar de não ter tempo de ir ao cinema, realizar uma atividade física ou sair com os amigos, tamanha é a quantidade de trabalho, contas para pagar e obrigações familiares a cumprir. De fato, o mundo está cada vez mais exigente e complicado. Mas vai continuar dessa maneira. Portanto, o melhor a fazer é aprender a lidar com ele. E, com um pouco de organização, tudo fica mais fácil.

Por causa da bagunça,muitas vezes perdemos tempo, dinheiro e paz de espírito com coisas absolutamente desnecessárias. Quem nunca entrou em pânico por não conseguir encontrar um documento importante? Quem nunca teve que pagar multa – e ainda correu o risco de ter a linha cortada – por se esquecer de pagar a conta de telefone? Todo mundo já passou, uma vez ou outra, por situações como essas. Até aí, tudo bem. O problema é quando situações assim passam a ser tão freqüentes que tomam conta da nossa vida. “Os muito desorganizados sofrem muito. É como ter um vírus que vai se alastrando. Começa com um problema aqui, passa a afetar outra área ali, vai crescendo e, quando vê, a pessoa perdeu o controle da situação”, diz Kelley Lara, palestrante da OZ! Sistemas de Organização, que dá cursos e presta assessoria na área. No ambiente de trabalho, por exemplo, um dos custos da bagunça é a menor produtividade. O desorganizado demora mais para encontrar o que precisa em meio à montanha de papelada, correspondência velha e até lixo espalhado pela sua mesa. Por causa da bagunça (física e mental), muitas vezes ele tem que refazer uma mesma tarefa e não é visto como confiável pelo chefe, já que tem dificuldade para cumprir prazos. Pior ainda: vira alvo de gozações por parte dos colegas. “Tudo isso abala a auto-estima da pessoa, que fica ansiosa, insegura e se sente incompetente. Em casos extremos, pode levar à depressão”, diz Kelley. O contrário também pode ser dito: em muitos casos de depressão, as características de organização de cada pessoa lentamente se deterioram.

Mais energia

O que fazer então para colocar um pouco de ordem no dia-a-dia? E, afinal, o que significa se organizar? “Organizar- se é controlar a própria vida, escolher as prioridades, determinar o que é realmente importante e livrar-se do que é excessivo”, resume a expert norte-americana Donna Smallin, que escreveu três livros sobre o assunto, entre eles o Organize-se. É claro que não existe uma forma única de organização perfeita.Mas os especialistas dão algumas dicas que podem nos ajudar a vencer o desafio da bagunça. Você pode escolher as que são mais adequadas ao seu caso e adaptá-las de acordo com seu estilo. A solução perfeita, na verdade, é aquela que funciona melhor para você.

Os especialistas concordam que para se organizar é necessário planejamento. Com tantos estímulos disputando nossa atenção ao mesmo tempo, é muito fácil se dispersar e deixar o caos tomar conta de tudo. Mas, com planejamento, a gente poupa energia, direcionando-a apenas àquilo que é fundamental. Em termos práticos, isso significa reservar alguns minutos pela manhã para decidir o que fazer durante o dia. Para isso, basta fazer uma lista de tarefas. Simples, não? Isso evita aquele pânico tão comum de ter tantas “coisas a fazer” que a gente não sabe nem por onde começar e que é um convite à procrastinação, aquela característica de deixar tudo “para amanhã” (e esse amanhã nunca chega). Com uma visão geral do que é preciso fazer, você consegue estabelecer suas prioridades. Comece da tarefa mais importante até chegar à menos importante e vá riscando. Você vai se impressionar com a quantidade de coisas que é capaz de fazer em um só dia.

Periodicamente, coloque no papel seus objetivos de médio e longo prazo. Esses planos são sua carta de navegação, aquilo que vai ajudá-lo a manter o foco e a não gastar tempo e energia com o que não é fundamental. Com ele em mente, a cada dia você pode dar um passo a mais em direção à sua realização.Mas lembre-se: seja flexível e esteja preparado para fazer os ajustes que serão inevitáveis ao longo do percurso. Afinal, esses planos são apenas para nos auxiliar e não para nos deixar amarrados. Freqüentemente eles devem ser atualizados e, no caminho, muitos acabam sendo descartados.

Mais espaço

Não espere organizar tudo de uma vez só. Quem tem uma vida muito desorganizada não fez isso da noite para o dia e vai levar um tempo até conseguir colocá-la em ordem – e mais ainda para conseguir mantê-la organizada. Já no século 17 o filósofo francês René Descartes, autor do Discurso sobre o Método, falava da importância de, ao se estudar um fenômeno complexo, dividi-lo ao máximo em partes menores e mais simples, de forma a tornar possível entendê-lo. O mesmo método vale para arrumar nossa vida. Essa tarefa (gigantesca para muitos, sem dúvida) tem que ser feita aos poucos, realizando uma coisa de cada vez. Cada passo bem-sucedido é um estímulo para continuar nessa direção.

Que tal começar arrumando seu quarto? Isso mesmo. Simples assim.O bê-á-bá. Já reparou como nos momentos em que precisamos nos concentrar, realizar um trabalho importante, em primeiro lugar arrumamos o espaço físico ao nosso redor para então seguir em frente com nossa tarefa? Isso não é à toa.“O caos físico gera desorganização mental e vice-versa. Ao organizar o nosso espaço, nós nos organizamos mentalmente também”, diz Kelley.É como a casa arrumadinha e pintadinha de preto do nosso amigo bebum Serge Gainsbourg, personagem do início desta reportagem. Ele precisava disso para não enlouquecer com a vida caótica que levava fora. Depois do quarto, passe para a cozinha, depois para a sala, o banheiro, o escritório, o carro e tudo mais que estiver ao seu redor. Mas vá aos poucos, claro, sem grande afobação. Ou seja: muitas vezes somos desorganizados porque, uma vez, deixamos uma pequena parcela de bagunça tomar conta de algum aspecto da nossa vida. Essa primeira centelha se espalha e pronto: a balbúrdia tomou conta. Aí, até como defesa, acaba sendo natural evitar o confronto com a desorganização.

Em casa ou no trabalho, livre-se da bagunça – o excesso de coisas sem as quais você pode viver melhor. “Tenha como meta cercar-se apenas de coisas que você usa e das quais gosta e desfaça- se de tudo aquilo que só ocupa seu valioso espaço”, diz Donna. Para simplificar a vida e torná-la mais produtiva, é importante aprender a descartar, a livrar-se do que é desnecessário. No caso de roupas, por exemplo, que tal separar aquelas que você não usa mais (e que só ocupam espaço no armário e juntam poeira) para dar a quem precisa? Elas também podem render um dinheirinho extra, se você vendê-las a um brechó.O mesmo vale para livros e revistas.Guarde os que são importantes para você e doe o restante para bibliotecas públicas ou para o consultório do seu dentista.Você também pode trocá-los por outros ou até mesmo vendê-los a um sebo.

Para algumas pessoas,descartar pode ser um processo difícil e até mesmo doloroso.Muitas vezes quem acumula possui vínculos emocionais com os objetos e não consegue se livrar deles. Minha mãe, por exemplo, mesmo agora que os filhos são adultos, ainda guarda boa parte dos objetos de quando eu e os meus irmãos éramos crianças. Até mesmo os cadernos escolares! “Você pode ajudá-la oferecendo uma troca”, me aconselha Kelley.“No lugar de guardar todos os seus brinquedos de infância, por exemplo, peça a ela que escolha apenas um ou dois, os mais significativos. O restante pode ser doado”, afirma.

Às vezes uma grande mudança vira nossa vida de cabeça para baixo. Foi o que aconteceu com a administradora de empresas Cristiane Berezin, 36, quando deu à luz as gêmeas Esther e Laura há um ano e meio. “Fiquei perdida”, conta. Com depressão pós-parto, ela ficou ainda mais abalada porque suas filhas tiveram uma inflamação nos bronquíolos.“Me senti culpada”, diz Cristiane, que na época já era mãe de uma menina hoje com 4 anos. Ela também recebia nos fins de semana os filhos do casamento anterior do marido. “De repente me vi com cinco crianças para cuidar,além do meu marido, da minha casa e do meu trabalho. Era muita coisa para mim”, afirma.Aos poucos, porém, a administradora foi colocando ordem no dia-a-dia de forma a ser capaz de lidar com tantas demandas diferente. Fez terapia e se mudou de São Paulo para Atibaia, em busca de uma vida mais tranqüila. Contratou uma babá e procurou dicas de organização em sites da internet. Pediu auxílio de um serviço especializado quando se mudou de casa.“Hoje, para me organizar, faço listas no computador das compras de supermercado, feira, farmácia e utensílios para as crianças. Quando acaba o pão, já marco na lista. Coloco etiquetas nas roupas dos bebês e ensino à empregada e à babá como manter tudo organizado. Delego funções e divido também as tarefas com meu marido”, diz. “Sem tudo isso, minha vida seria um caos. É claro que às vezes algumas coisas saem erradas, mas faz parte.”

Mais tempo

Na hora da arrumação, procure estabelecer nichos específicos para cada coisa. Escolha, por exemplo, um lugar para deixar sempre a chave de casa. Outro para guardar os documentos mais importantes. Compre uma pasta para colocar todas as contas.Mas preste atenção para que essa organização seja feita de forma prática, pois, quanto mais você complica, mais difícil será mantê-la. A organização serve para facilitar a vida e não para dificultá-la.

Além do “efeito organização interna”, colocar cada coisa em seu lugar (e mantê-la ordenada) ajuda a poupar tempo, esse bem tão desejado nos nossos dias. “Ao contrário do que muita gente pensa, organizar o espaço não é uma perda de tempo. É um ganho,pois você vai saber exatamente onde estão as coisas e não vai mais perder minutos preciosos ou até mesmo horas preciosas procurando-as”, afirma a psicóloga Sâmia Simurro, vice-presidente da Associação Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV).

Mais liberdade

É claro que regras demais são uma ameaça à criatividade, uma qualidade fundamental. No limite, podem até ser sinal de doença, como a do transtorno obsessivo compulsivo (TOC). Portanto, não vamos exagerar. Ninguém aqui quer pregar o fim da espontaneidade. Afinal, a vida não teria graça nenhuma sem ela. Algumas das mais belas canções de amor do mundo não teriam sido criadas por Gainsbourg se ele tivesse levado apenas uma vida certinha, monótona e cheia de regras. Estamos falando de uma organização que, na medida certa, serve em grande medida para simplificar nossa vida. Trata-se, na realidade,de uma forma de libertação.Uma boa síntese disso é feita pelo filósofo Mario Sergio Cortella, professor da PUC de São Paulo.Diz ele: “Tenho uma razão muito simples para ser uma pessoa organizada: gosto muito de cultivar o ócio.Quanto mais organizado eu sou, mais tempo livre eu tenho para me dedicar àquilo de que mais gosto. Ou seja, ficar sem fazer nada e sem culpa”.Um ótimo motivo, não?

Para saber mais
Livros:
• Organize-se – Soluções Simples e Fáceis para Vencer o Desafio Diário da Bagunça, Donna Smallin, Gente
• A Arte de Fazer Acontecer, David Allen, Campus

Análise_Vitórias e Derrotas

Sobre vitórias e derrotas

A Copa acabou e a Seleção Brasileira perdeu antes mesmo de chegar às semifinais, deixando um país inteiro debatendo as razões do fracasso de um time que tinha tudo para ser vitorioso. No cotidiano nem sempre é fácil entender o que é ganhar e o que é perder. Avalie melhor esses conceitos e descubra como você está no jogo da vida

Ai de quem perde!_Onde é o topo?_Quebre o círculo_Vitórias reais_O limite de cada um_Crie sua tabela_Vencer, perder, viver

O sabor da derrota é amargo e se alastra pelo corpo.

Olhos vagos ardem, músculos estancam, gestos endurecem, cristalizados. Palavras engasgam, enquanto cenas da capitulação voltam em flashes. O pulmão pára de respirar. E a cabeça, puf!, parece que vai cair a qualquer momento. Que difícil de acreditar! Quando o escrete canarinho vacilou diante da França ¬ e saiu de campo derrotado nesta Copa de 2006 ¬ foi um déjà vu danado: parecia que o Brasil voltara oito anos no tempo, e lá estávamos nós, perdendo mais uma vez.Tudo se misturou na memória. Os lances certeiros e cruéis de Zidane, um novo algoz chamado Henry e mais um grupo de astros do futebol sem explicações. Afinal, não somos os melhores do mundo? O que falta, enfim, para jogarmos tudo o que sabemos? Sabemos dar um show?

Com um peso no peito, sem achar conforto, uma idéia surgiu em meus pensamentos. Havia acabado de escrever esta reportagem, sobre como ganhar e perder faz parte da vida e o quanto podemos aprender em ambas as situações. E ainda: toques para sabermos se estamos ganhando ou perdendo na tabela de sonhos e anseios que almejamos para nossa história, que está sendo escrita o tempo inteiro, todos os dias. Será que o texto, enfim, tinha algo de valor, de prático? Porque, se assim fosse, deveria trazer alguma reflexão até mesmo para as inconsoláveis dores de futebol ¬ sem falar nas de amor, que mereceriam uma categoria à parte, hors-concours. Corri para o computador e, enquanto a máquina inicializava, dei uma boa suspirada ¬ ah, esses franceses!

Hum, ligou. Abrir documento...
Momento nostalgia.Você vai precisar de uma caneta ou lápis. Marque (x) quando foi vitorioso e conseguiu algumas das doces conquistas abaixo. E pinte (•) quando perdeu a vez:
( ) Campeonato de bolinhas de gude contra os meninos da outra rua.
( ) Completar um álbum de figurinhas, com a carta premiada.
( ) Ser da seleção de futebol, vôlei ou basquete do colégio ¬ na reserva também vale.
( ) Beijar a(o) garota(o) mais bonita(o) da última série.
( ) Conseguir passar direto em todas as matérias, sem recuperação.
( ) Acertar as três argolas e ganhar a prenda mais legal da festa junina.
( ) Finalmente entender as aulas de física e conseguir fazer as provas.

Pois é, a vida da gente, desde cedinho, é cheia de momentos que se fixam em nossa memória.Tem de tudo um pouco: o chocalho no berço, o primeiro dia de aula na escola, o sorriso de um novo colega, a excursão para pescar em um ônibus apertado, o prato de família saindo do forno... Independentemente do valor afetivo, parte de nós funciona igual aos computadores. E lá vamos classificar cada um desses fatos como algo bom ou algo ruim, mediante um pouco de tudo: nossos próprios juízo e gosto, elogios familiares, broncas professorais ou, simplesmente, o olhar dos outros. E aí, em 99,9% dos casos, não tem ninguém (sejamos sinceros, por favor) que se vanglorie por uma derrota, certo? “Em uma sociedade extremamente competitiva, somos estimulados a ser os melhores, a ser os vencedores já na infância”, comenta o psicanalista paulistano Tiago Corbisier Matheus. Imagino: eu tenho até um amigo que me contou que, quando ele nada pela manhã, compete arduamente em silêncio com os que treinam nas outras raias.

Há uma verdadeira obsessão pela vitória em nossa mentalidade e sociedade. Chegar em segundo lugar? Nem pensar! Para começar, em uma sociedade aguerrida e bastante seletiva como a brasileira, esse tal segundo lugar pode significar não conseguir um emprego, não receber uma promoção. Ou mesmo não obter uma vaga no colégio ¬ existem alguns, nas maiores capitais brasileiras, que têm uma prova de admissão, um verdadeiro vestibulinho. A vida é incerta, sim, e cheia de desafios, vários deles monetários, e muitos pais projetam suas frustrações nos filhos, querendo que eles sejam ou conquistem o que não conseguiram. “É o famoso ‘meu filho vai chegar lá, aonde não cheguei’”, afirma Corbisier Matheus. “Acabamos por enxergar o mundo de forma dicotômica. No topo, existem os vencedores, ou os winners, pelo modelo americano de comportamento, e todo o resto de perdedores, ou os losers, os zeros à esquerda, que não conseguem nenhum destaque na vida social”, complementa o psicanalista. Puxa, você deve estar comentando: “Mas é claro, não é? Como e por que eu iria comemorar uma derrota?” Calma, mais alguns parágrafos de conversa e chegamos lá.
Ai de quem perde!

Além da necessidade real de conseguir um lugar ao sol, sempre queremos conseguir o que queremos, do jeito que for. O jeitinho brasileiro é um típico comportamento tinhoso, em que se busca ganhar a todo custo, sem pensar nas conseqüências. E mais: o brasileiro nem percebe que usa o tal jeitinho o tempo todo. Isso porque o brasileiro promete, promete, mas não faz. Diz que sabe fazer, mas não sabe. Força a tinta nos currículos, deixa trabalhos para a última hora (ai, ai, desse mal este repórter confessa que sofre, e muito). Enfim, leva com a barriga. “Um jeito foi dado uma vez, e com isso uma forma de resolução foi obtida. E assim as cartas são lançadas repetidas vezes”, diz o antropólogo Roberto DaMatta no livro O Que Faz o Brasil, Brasil? É de pensar se os nossos nobres administradores dos órgãos públicos não padecem desse estilo. Ou até a nossa querida Seleção, que a olhos leigos pareceu ser assim, um grande improviso, contando apenas com o talento dos craques. Nesse caso, não vai ser dessa vez que teremos nosso conforto social. Não só aqui, mas em muitos países, a vitória da seleção nacional tem muitos usos.

Em 1970, o tricampeonato amarelinho enfraqueceu o descontentamento de um povo subjugado por uma ditadura militar. Oito anos depois, ocorreu o mesmo na Argentina, que fez de tudo para ser campeã, com casos comprovados de suborno a atletas adversários. Já em 1998, do lado de lá da vitória, a França viu o país melhorar sua auto-estima em um ano crucial: a integração com a Comunidade Européia.

Por toda essa angústia, os perdedores são malvistos pela sociedade. Até hoje, quando se revêem as imagens falhadas, em preto e branco, quase não se vê por onde a bola passou quando o Uruguai marcou o segundo gol. Para Barbosa, goleiro da Seleção Brasileira na final da Copa de 1950, essa bola nunca parou de passar. Responsabilizado pela derrota brasileira e pelo trauma do país ao perder o título em casa, em pleno Maracanã, o excelente goleiro nunca mais foi lembrado por nenhuma de suas defesas ¬ e sua biografia parece não constar em lugar algum. Parece apenas existir esse segundo gol, e nada mais. Contase à boca pequena que muitos anos depois Barbosa ainda era reconhecido nas ruas e mercados e apontado como o homem que fez o Brasil inteiro chorar. O piloto Rubinho Barrichello, então, tem um único pecado: não trouxe nenhum título ao Brasil e sofre zombarias apesar de anos e anos pilotando entre os melhores do seu tempo. Mas isso, além de trágico, foge um pouco da realidade, não? Afinal, ter perdido o concurso de pipas no parque da sua cidade fez de você alguém pior? Assim como entre o preto e o branco existem múltiplas tonalidades de cinza, entre o que chamamos de derrota e vitória... Bem, há muitas formas de encarar a questão.

Onde é o topo?
Quer ver um só exemplo onde vencer não é o que parece? Antes disso, olhe só que interessante este outro teste a seguir. Sendo bastante sincero, eu mesmo fiquei com (•) em todos os itens. Pudera, dessa vez a lista bate lá no topo das conquistas que mostram estabilidade e sucesso no jogo capitalista. Será que você já tem alguns (x)? Se está quase lá, se dê um desconto. Qualquer traço de semelhança com o que tem já vale assinalar o item, ok? Veja:
( ) Carro do ano, moto novinha, bicicletas iradas e uma prancha pronta para o surfe.
( ) A casa própria, não importam o tamanho e a localização.
( ) Ser chefe da equipe, ganhar melhor que a turma e ainda ir embora mais cedo.
( ) Casamento estável, crianças alimentadas, animais de estimação.
( ) Pós-graduação, mestrado, avanços acadêmicos, treinamentos no exterior.
( ) Férias todo ano, dessas de viajar por um mês por praias desertas.
( ) Claro, por que não?, uma casa na praia, na beira do mar.

Sim, com certeza a lista é difícil e de propósito. Para os que estão distantes de preenchê-la, ela pode parecer um ideal de vida nada simples e até exagerado. Por outro lado, tem muita gente que conseguiu algo semelhante, equivalente, ou que já batalha anos e anos para conquistar alguns dos itens, sem nunca abandonar o jeito simples de viver ¬ “Eu quero uma casa no campo”, também cantava a saudosa Elis Regina. É o que praticamente Marvin Kundera (o nome, o cargo e a empresa foram alterados para preservar a identidade do entrevistado, em busca real de caminhos) tem, mesmo sem sair da capital paulista. Gerente comercial de uma gigantesca empresa nacional de alumínio, Marvin marcou sem pestanejar (x) em toda a lista e assim o faria até se a lista fosse 50% maior ¬ ou mais! Sua casa, em um bairro afastado do centro, é espaçosa, com múltiplos andares e uma grande varanda, igual a um deque de madeira, debruçada sobre uma intocada área verde.Mas se você já está imaginando Marvin como um cara de bem com a vida, não é nada disso. “Deixei de aprender onde estou. Depois de implementar muitas inovações ¬ e quebrar a cabeça com isso ¬, agora o meu setor dentro da empresa navega estável, sem novidades. Estou parado, insatisfeito”, conta o executivo. “Sem desafios, me sinto o cara errado na hora e no lugar errados. Por isso, busco mudanças.”

Enquanto se enfurna em sua oficina pessoal e reforma calmamente uma moto antiga, Marvin pensa no futuro com o olhar atento de quem conseguiu vantagens materiais, porém não se apega a elas. Perguntado se o que ele quer, na realidade, é subir mais e mais na carreira, ele refuta: “Isso é impossível. Sempre haverá um cara melhor que você, ganhando mais, acima da sua posição. Seguir esse caminho não leva a nada. A mudança que busco é para descobrir, de verdade, o que me satisfaz, o que me traz dinamismo. E só”.
Quebre o círculo

Vencer por vencer, conquistar por conquistar? Afinal, até onde isso pode ir? Para as cadeias de fast food, sempre temos o funcionário do mês (foto com aquele sorrisão escancarado, claro!), que muda logo no outro mês. Em academias de ginástica, o professor da semana (sim, também muda constantemente). Até em cabeleireiros está lá a tesoura de ouro do mês (habilíssima e, por isso, um pouco mais cara). Claro, desculpe, como esquecer: nos Big Brother da vida, sempre temos o líder da semana. Nas agências, quem vende mais ganha mais ¬ e luta com os colegas do lado para vender mais ainda. Atores e atrizes, quando em voga, gravam comerciais, fazem peças de teatro, estão na novela das 8, se preparam para a próxima minissérie, aproveitam para ter três ou quatro namoros rápidos, sem falar nas jornadas fotográficas para inúmeras revistas. Profissionais do marketing nem param para pensar: quando na crista da onda, é livro, palestra, vídeo, conferência...
Mas é nos campeonatos de basquete americanos que os limites dessa história avançam mais e mais. A premiação parece não ter fim de uns tempos para cá, e não só o cestinha do jogo tem sido aclamado. Há o assistente, o reboteiro, o cara que faz bloqueios, o matador de três pontos, ih!, é uma lista grande, em expansão, que serve a todos que querem ver seu trabalho reconhecido. E leia-se reconhecido por, além de dar boas enterradas, aparecer na TV, dar retorno ao patrocinador e vender camisetas com seu nome. Poucos são os que vão construindo a carreira de forma mansa, passo a passo ¬ isso em todas as áreas. Ou que sabem que, após um ciclo positivo, pode vir outro menos produtivo. E depois, como a natureza, alternâncias, transformações e, por fim, outros e outros ciclos bemaventurados... “Na vida, ocorre um processo evolutivo que pode oferecer mil derrotas com o intuito de que você chegue à única e verdadeira vitória, aquela sobre si mesmo, sobre o seu excesso de individualidade”, diz Jo Azer, mestre da arte marcial vajramushti. Com mais de 38 anos dedicados a essa arte, o vigoroso lutador sessentão cita um antigo pensamento sobre o tema, que muito lhe agrada: “Um verdadeiro homem trata uma pepita de ouro e um pedaço de carvão como a mesma coisa. O ouro ele gasta e o carvão ele queima”. Assim, a derrota não deveria deixar o travo tão amargo na boca que freqüentemente tem. Nem a vitória ser tão doce e saborosa, como pode parecer.
Vitórias reais

Vale a pena deixar de ver as vitórias como os primeiros lugares no pódio. Por quê? Para que possamos saborear nossas verdadeiras vitórias, dentro de nossos limites reais, e na superação deles.Para tal, os sonhos de grandeza não ajudam. “Basta ter os pés no chão para poder vencer de verdade”, diz Osmar Rosseto Bambini Filho, corredor de aventuras. Aos 33 anos, Osmar trabalha na distribuidora de produtos de higiene e beleza da família. Mas se dedica a treinos diários de três horas para estar pronto a se jogar com sua equipe em aventuras para lá de radicais, corridas que duram 24, 48 horas ou até mesmo uma semana, nas quais remam, pedalam, escalam, correm. E passam frio, fome, sono, cansaço, dores em todas as regiões do corpo. Além disso, Osmar sabe que sua equipe, a NexCare3M Senta a Pua, está entre as do segundo pelotão. “Só chegamos na frente das grandes quando algo de errado acontece com elas”, diz. E chegar na frente pode ser o último dos objetivos da Senta a Pua. Na última prova Ecomotion Pro, umas das mais difíceis desse tipo ¬ e a mais árdua ocorrida no Brasil ¬, Osmar e seus amigos ultrapassaram seus limites a ferro e fogo. “Nos perdemos, corremos risco de vida, estávamos machucados. Chegamos em um suadíssimo último lugar.Mas chegamos! Há três anos tentávamos ver a linha de chegada e nada. Parávamos por muitos motivos. Quando conseguimos, bem próximos ao tempo limite para a classificação, foi uma choradeira só. Tiramos o peso dos ombros, sentimos o senso de dever cumprido. Se fomos os últimos na prova, não teve a mínima importância”, diz Osmar.

Assim é também para o fotógrafo de Brasília Dalton Camargos. Sua maior vitória não vem em momentos de estripulia, mas em cada clique, em cada foto, que ele continua a tirar diariamente. Uma rara infecção se alojou em sua medula seis anos atrás. Em plena sexta-feira de Carnaval, ele se viu sem seus movimentos do pescoço para baixo a caminho de uma cirurgia difícil, em que os médicos drenaram todo o líquido de sua espinha vertebral. “A partir daí, não se sabia o que iria acontecer. Acordei ainda paralisado, mas com uma remota chance de recuperação”, conta ele. Em dois meses, Dalton reaprendeu boa parte dos movimentos. Depois, ao fim de um ano, recuperou uma coisa de cada vez: andar, correr, sentar, pegar objetos, escrever, dirigir. Inclusive fotografar. “De certa forma, perdi tudo e depois ganhei quase tudo. Pois algumas lesões mínimas ficaram. Perdi um pouco da habilidade da mão esquerda e, por isso, tive que reaprender a manejar todas as minha máquinas fotográficas.”O que não fez Dalton parar. Todos os dias, lá vai ele. “Agora, bem mais consciente da fragilidade da vida, o que eu ganhei foi sensibilidade no olhar.”

O limite de cada um
Vamos lá, você está num dia ruim. Levou broncas no trabalho, brigou feio com a(o) nova(o) namorada(o) bonitinha( o), o seu filho te acha um(a) chato(a) e se tranca no quarto. Pequeninos contratempos que levam, todos juntos, a se sentir com um carimbo na testa que diz “derrotado( a)”. Que bom, a derrota nesses ciclos da vida tem muita utilidade. No caso acima, ela vai mostrar que você tem limites e que nem sempre o seu melhor é o suficiente para acertar uma situação. Serve também para quando você participou da concorrência interna em busca da vaga dos seus sonhos. E, na última peneira, você não passou. De novo, outra lição dos dias ruins: os outros também têm valor. Que tal ver as qualificações de quem ganhou a promoção e buscar se aperfeiçoar? Tirando a ansiedade e a vontade de viver e resolver tudo de uma só vez, outro ensinamento da perda é perseverar. Ainda não fez as pazes com o vizinho após a festa de arromba? Insista um pouquinho. Aí, não é bacana? Aprender limites, reconhecer o outro, perseverar. Seriam as derrotas o caminho do zen?

Continuemos no mesmo cenário. Os dias passaram, você foi elogiado pelo chefe, o namoro decolou que só e seu filho te comprou um presente ¬ e ainda quer que você vá a um show com ele. Veja só: o que antes era um limite agora não é. Superar limites são sinais de vitória, sim. Quer mais? Teve outra seleção até para uma vaga melhor. Lá foi você, perseverante, confiante em si depois de estudar umas coisinhas aqui e acolá. Bingo! Novos desafios, aumento no bolso, sorrisão, auto-estima encostando no céu! E não é que você tem crédito, rapaz? Para terminar, o vizinho fez as pazes, sim, mas ainda não liberou o prédio para outra festa.Vai ter que ser dia após dia, uma atitude constante, realista, pé no chão. Mas você bem que já pode comemorar, não? Superou limites, aprendeu seu valor, mas se manteve realista, sem nariz empinado ou pose de general. Taí, as vitórias também ensinam. E não é pouco.

Crie sua tabela

Hum, então vitórias e derrotas não vêm necessariamente dos pódios e campeonatos. Interessante. Como saber, então, se estamos indo bem na nossa tabela pessoal, na que tem o verdadeiro valor? Vai depender muito ¬ parece até chavão ¬ do modo como você pensa. Para a escritora Lya Luft, “ganhar não é algo material, evidente, mas algo como esperança, otimismo, alegria, experiência e maturidade”. Já para o senador Eduardo Suplicy, que neste ano irá concorrer ao cargo novamente, “qualquer derrota nunca pode abater, apenas ensinar a perseverar por seus ideais. As vitórias, por outro lado, nunca podem subir à cabeça. Depois delas, você continua sendo um ser humano normal, com responsabilidades até maiores”. Podemos, então, deixar de ver como perdas e ganhos as marcas da infância e adolescência, assim como a luta que temos para conquistar uma estrutura para viver? Claro que não.Vale a pena acrescentar outras questões para nossa evolução pessoal.Aproveite a caneta que está ao seu lado e faça mais este teste:

( ) Aprendeu a ter paciência com sua família.
( ) Já não cobra tanto dos outros, mas busca aperfeiçoar a si mesmo.
( ) Sabe se virar sozinho nesta vida, sem choro nem vela.
( ) Consegue expressar seu afeto pelos amigos, amores e afins.
( ) Banca seus sonhos e não se deixa acomodar.
( ) Ouve seu coração vez ou outra e sabe se fazer feliz.
( ) Estuda seus limites e trabalha para ultrapassá-los com sabedoria.

E não é que este teste não é tão fácil de responder? Neste ponto da história, mais valor terá uma lista, e um teste preparado apenas por você,o único capaz de, com isenção, dizer onde está no seu jogo da vida. Claro, você já deve ter percebido, mas não custa repetir. Ao mesmo tempo em que se ganha, às vezes também se perde. O exemplo mais clássico do mundo é este: quem está casado em alguns momentos olha com uma ponta de inveja o primo solteirão, baladeiro. E ele, que cai na gandaia, tem dias que acorda querendo mesmo é estar ao lado de uma doce esposa. Mas o planeta ensina um pouco a mais sobre isso, sem nenhuma ansiedade de ter tudo ao mesmo tempo agora.

Para os biólogos evolutivos, nada se perde nem se ganha. Uma certa árvore, que lança mil sementes ao vento para reproduzir sua espécie, tem apenas três ou quatro dessas sementes aproveitadas, sementes que conseguem vingar e crescer. As outras, os passarinhos comem, os insetos devoram e até os esquilos beliscam ¬ fora o solo, que digere algumas como nutrientes para outras espécies. Perda quase total? Para a teoria de Géia, que defende que a Terra é um organismo vivo, a conta que a árvore faz é outra: sementes a mais para doar aos pássaros, aos insetos, aos roedores e ao solo. Ela colabora com as espécies, que por seu turno também colaboram com a árvore de outras formas. E por aí vai.

Vencer, perder, viver

Ah, sim, o sonhado hexa... Existe algum consolo? A perda do sexto título mundial pode não ser algo tão dramático se deixarmos de lado nossa própria euforia e as idéias de título fácil vendidas em exorbitantes campanhas de marketing.Vencer a todo custo e sempre? Pois é, já sabemos que não é bem assim. Só para pensarmos mais um pouquinho: craques campeões em seus times e em suas carreiras, como Leônidas, Barbosa, Ademir da Guia, Leão, Zico, Sócrates, Valdir Perez, Falcão, Casagrande, Roberto Dinamite e o maestro Telê Santana, entre muitos outros, por mais que tenham suado a camisa brasileira nunca levantaram o caneco. Ninguém duvida que cada chute deles, dividida, pênalti perdido, bola na trave, defesa, nossa!, tanta história em campo, tudo isso tenha feito e construído junto aos que levantaram a taça cinco vezes uma glória maior que as vitórias: uma nação que ama o futebol. Como na vida, o nosso valor não mora nas vitórias e nas derrotas, tão efêmeras, mas sim nas estrelas que carregamos dentro do peito. Afinal, o coração teima em bater, haja o que houver. Na vitória e na derrota.

Para saber mais
Livros:
• Perdas e Ganhos, Lya Luft, Record
• O Herói de Mil Faces, Joseph Campbell,Cultrix/Pensamento
• O Poder do Mito, Joseph Campbell, Palas Athena
Filmes:
• Ponto Final, Woody Allen, 2005
• Estrela Solitária, Win Wenders, 2005
• Flores Partidas, Jim Jarmusch, 2005
• Mar Adentro, Alejandro Amenabár, 2004
• Menina de Ouro, Clint Eastwood, 2004
Fonte: Revista Vida Simples

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