Questões em discussão
Na disputa pelo espaço da informação, o assessor procura "vender" seu cliente, por meio de sugestão de pauta ou pedido de inserção de nota em seções, e o jornalista de redação, por sua vez, busca nas assessorias informações exclusivas ou privilegiadas, de preferência previamente coletadas e elaboradas, que possam valorizar - e facilitar - seu trabalho. Afinal, isso conta pontos em redações em que a grande preocupação é a produtividade. Embora, em muitos casos, os interesses sejam efetivamente conciliados, nem sempre isso se torna possível, seja por falta de espaço ou de notícia. O que acaba por provocar muitos atritos e queixas mútuas. É jornalista contra jornalista.
Em meio a essa guerra, a máxima "o que é bom para a empresa é ruim para a imprensa" deve ser tomada como verdade absoluta e incontestável? Será que não há assessor honesto e comprometido com a ética e a verdade? Será que toda informação incorreta que parte da empresa tem a conivência do assessor? Os jornalistas das redações são os donos da verdade? Tudo o que chega de release nas redações é lixo? Será que as redações hoje, da forma como estão estruturadas teriam condições de se manter sem o material fornecido pelas assessorias? (Por incrível que pareça há editoras, como a Sigla, que têm redações com um único editor.) É possível estabelecer um relacionamento cordial entre jornalistas e assessores? Como? O assessor é muitas vezes esnobado nas redações? E o jornalista de redação continua mantendo sua soberba, mesmo quando equivocado?
Essa é a discussão que IMPRENSA propôs a jornalistas dos dois lados da trincheira e que é relatada a seguir. Mas ela não se encerra por aqui. A guerra pode continuar, por haver incompatibilidades irreconciliáveis, ou ambos os lados podem assinar um pacto de boa vizinhança, que exigirá boa vontade para aparar as arestas e a revisão de posturas e comportamentos. Todos os profissionais ouvidos concordam que ainda há muito o que profissionalizar, tanto nas assessorias como nas redações, e com seriedade é possível estabelecer uma relação de múltiplo interesse.
O jornalista de redação não é melhor e nem diferente do assessor de imprensa, resume Josafá Dantas, diretor do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal e representante da região Centro-Oeste na Conjai - Comissão Nacional dos Jornalistas em Assessorias de Imprensa, da Fenaj. "O assessor de imprensa não é o bicho-papão do jornalismo, não esconde informação, apenas preserva a empresa onde trabalha", diz Josafá. "Isso também acontece às vezes com o repórter. Ele tem informações, mas a empresa não permite a publicação sob pena de perder um contrato publicitário. O jornalista de redação apenas pensa que tem liberdade, que é um profissional liberal. Ledo engano. Não passa de um assalariado. O assessor, pelo menos, tem a consciência de que trabalha para traduzir de forma mais simples os informes que devem ser passados para a imprensa."
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