Jornalismo ou marketing disfarçado?
Um dos principais aspectos que os jornalistas tanto das redações como das assessorias relutam em abordar é o da essência do trabalho das assessorias: trata-se de informação, ou de marketing e publicidade disfarçados? Há quem diga que existe um pouco de tudo, e que esse recurso pode ser legítimo ou não. Depende da maneira como o trabalho é realizado. Profissional de RP, em atuação no ramo há muitos anos, Nemércio Nogueira, da RP Consult, publicou em 1996 um artigo na revista Mercado Global, intitulado "Divulgação jornalística: uma atividade de marketing", em que dizia: "Os mais tradicionalistas entre os que se dedicam a relações públicas provavelmente se arrepiarão ao ler, com todas as letras, que um dos principais objetivos do trabalho de divulgação jornalística é aumentar as vendas de produtos de uma empresa ou abrir novos segmentos de mercado."
Depois de dizer que lhe parecia ser extremamente saudável que tais verdades fossem admitidas publicamente, Nemércio completou: "Essa atividade tem efetivamente grande valor no apoio ao esforço de marketing das empresas, ainda que, geralmente, não possa tomar o lugar da propaganda, que proporciona controle absoluto das mensagens, sua repetição, etc."
Nemércio Nogueira ainda mantém sua posição, mas alerta que o trabalho de assessoria de imprensa "jamais deve ser visto como substituto da publicidade". E completa: "São coisas muito diferentes. Porém, se o assessor tem uma informação de interesse público e consegue despertar interesse da imprensa para a notícia do cliente, em geral positiva, isso pode reverter é claro, em ganho para a imagem da empresa. Ou seja, o que se pode conseguir com uma boa informação é algum marketing institucional."
O fato é que é comum encontrar na base das informações fornecidas pelas assessorias de imprensa, ainda que subliminarmente, a venda de um produto ou de um conceito. Assim, uma pequena nota, em badalada coluna, pode gerar resultado positivo para a empresa. Porém, muitas assessorias exageram no marketing ou merchandising do produto, serviço ou cliente, e isso realmente incomoda muitos jornalistas nas redações: a tentativa exagerada de venda de alguma coisa por intermédio de releases. "Não me interessa um press release adjetivado do inicio ao fim sem uma notícia que interesse ao meu leitor. Esses, em geral, eu jogo direto no lixo", explica o editor de economia da Folha de S. Paulo, Oscar Pilagallo.
Fonte: Arnaldo Carmona, Célio Albuquerque e Luiz Antônio Maciel
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